segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Sócio

Quando fizemos o show "Click" no Teatro São Pedro, dias 7, 8 e 9 de novembro últimos, convidamos um músico e compositor uruguaio, chamado Federico Lima. Ele tem um projeto solo, no qual se autointitula "Sócio". É um excelente trabalho, que logo deve ser lançado no Brasil, senão, quando for ao Uruguai, recomendo conhecer. Essa história é uma daqueles dias.
O Federico circulava pelos bastidores do teatro, sempre carregando o violão. Parava, às vezes, em algum canto e então ensaiava as músicas que ia tocar conosco à noite no show. Estava bastante empenhado em fazer tudo certinho: se tinha alguma dúvida interpelava a mim e ao Veco sobre os acordes ou sobre a estrutura das músicas.

Já quase na hora do show, ele passava "você vai lembrar de mim" pela milésima vez e então me perguntou sobre a pronúncia correta de determinada palavra. Nem lembro qual. Disse a ele que não se preocupasse com isso, mesmo porque a pronúncia estava correta, só o que havia era o sotaque espanhol e que nada havia nisso de ruim, pelo contrário.
Quando Federico começou a cantar no show a sua parte na música - bastante conhecida do público - foi, literalmente, ovacionado.
Seu "sotaque", como previ, foi recebido com generosidade pelo público.
Independente da profunda simpatia que a sua figura evoca - ele é de fato uma 'figuraça", privilégio nosso tê-lo conhecido - , o que ocorreu naquele momento, a meu ver, transcendeu a simples escolha adequada da música/artista. Assim também foi quando em nosso show em Montevidéu o Thedy procurou comunicar-se em espanhol, imperfeito, mas empenhado em se fazer entender. Tentativa que também foi calorosamente recebida pelo público.
O que acontece nessas circunstâncias parece demonstrar que, ao contrário do que às vezes vemos na mídia, certas "fronteiras", em muitas instâncias, parecem circunscritas à esfera da geografia, aos eventos futebolísticos e aos delírios nacionalistas de alguns - poucos, mas infelizmente com algum poder.
As pessoas comuns, cuja opinião parece freqüentemente "dispensável", parecem enxergar essas fronteiras como elas realmente são: construções externas e estranhas aos seus reais interesses. Elas, no fundo, querem se encontrar, comunicar-se, compartilhar experiências, jogar bola, cantar, rir e beber juntos.
Pelo menos é isso que fazemos quando viajamos pelos nossos vizinhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário