segunda-feira, 21 de março de 2011

Só um garoto

Agora precisava que você fizesse uma coisa.

Primeiro bota aquela música que você escolhe ouvir quando precisa pensar
na vida. Eu espero.

Deu? Vamos lá, então.

Têm coisas que nos movem e outras nos comovem.

Acabei a pouco de ler “Só Garotos”, uma biografia da Patty Smith. Sempre
pensei nela como uma cantora faca na bota e alternativa. Para ter uma ideia,
o disco de estreia dela, “Horses”, é considerado por muitos o precursor do
Punk. Esguia, andrógina, sempre aparecia nas fotos com um olhar meio
petulante e desafiador, muito legal. Mas o livro mostra muito mais do que
isso, óbvio. Na maior parte do tempo, é até contraditório com essa imagem
que eu tinha. Devia ter pensado melhor, já que ela é também parceira do
Bruce Springsteen em “Because the Night”, que adoro.

A história praticamente começa a partir do encontro dela com Robert
Mapplethorpe, artista plástico em formação, na época, e é cheia de
afetuosidade, romântica e fraternal, e muito comovente, mas teve uma outra
coisa que me bateu nessa leitura e tem a ver com o nascimento de alguma
coisa que poderia definir como personalidade artística.

O amor de ambos nasceu e se consolidou através do amor que ambos
nutriam pela arte e o comovente, para mim, vem daí. Todos os momentos
entre eles pareciam nascer dessa busca que nos move quando temos esse
amor, e que parece tão incompreensível, infelizmente, para alguns que
assistem a tudo de fora.

Os dois contavam as moedas para a próxima refeição e lutavam para dar um
jeito de pagar o aluguel, mas nunca desistiram, apoiados um no outro. Pode
parecer meio piegas, ainda mais se você não colocou aquela música que
pedi no começo. Pior ainda, se você não tem uma música assim, ou se é a
música errada. Então eu entendo.

Eu ainda me sinto tocado por esse tipo de história. Me alimenta uma fé que
tantas vezes já vi meio moribunda mas que descubro, ainda bem, só estava
adormecida.