Acredito que a política é, sobretudo, aprender a olhar para o lado e tentar enxergar, dentro dos limites do possível, o outro. Por outro lado, é também um exercício do olhar interno e das descobertas e esclarecimentos que esse exercício traz.
Nessa eleição, profundamente polarizada, me dediquei a passar boa parte do tempo tentando descobrir o que, sinceramente, pensam aqueles que pensam diferente de mim. Isso não faz de mim uma pessoa melhor ou pior que ninguém, mas, óbvio, uma exceção.
O que me faz intuir que estou no caminho certo foi a oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre aquilo que acredito e desacredito. Eu, é claro, não sou perfeito, mas não sou burro. E procuro não ceder ao auto-engano mais do que o absolutamente necessário.
A polarização dessa campanha tem, claro, seus culpados, mas não pretendo entrar nessa questão. O que acontece é que quase não se consegue conversar sobre política sem entrar numa discussão fundamental com qualquer um que tenha escolhido o outro lado.
As paixões estão no ar e as escolhas políticas costumam ter horror à dúvida. Mas somos instados a escolher e isso envolve tomar partido, e é nessa questão que pretendo tocar.
Acho que o momento exige racionalidade, o que envolve, para mim, votar em alguém que não necessariamente pense como eu em relação a todas as questões, ou que seja candidato a santo – não é para isso a eleição, né? – e que nunca tenha cometido seus erros. Mas é muito importante que compartilhe comigo certos valores.
Ser racional significa contrapor-se ao voto puramente ideológico, normalmente refratário à racionalidade. Partidos políticos e politicos, em suma, não são para ser amados ou suscitar paixões, a meu ver. Já certos valores, como a democracia, a economia de mercado, a liberdade de expressão (inclusive a religiosa) o respeito às leis e um Estado verdadeiramente voltado para seus atributos básicos, que consistem em proporcionar aos seus financiadores (os cidadãos, que pagam seus impostos) educação e saúde de qualidade, bem como segurança, além da vontade (corroborada por ações) de corrigir suas imperfeições, são valores inegociáveis para mim. E sob esse ponto de vista, a meu ver, as candidaturas não são assemelhadas.
Não custa lembrar que o resultado de uma escolha ruim representará, no mínimo, quatro anos de arrependimento.
Posso não escolher o candidato que será o vitorioso. Isso me chateia, por um lado, já que confio no meu julgamento e no que ele se baseia, mas qualquer que seja o resultado da eleição, sei que essa escolha foi motivada por sinceros "olhar para o lado" e "olhar interno". O que garante que valeu a pena.