sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A solidão do Coronel Nascimento

O coronel Nascimento parece carregar o peso daqueles que escolhem – ou não saberiam ter outra escolha – viver segundo suas convicções.

Todas as noites quando chega no seu – modesto – apartamento, abre a geladeira e enche um copo de água gelada. Sob o luto da morte do amigo, sequer acende a luz. É emblemática a sua solidão. Embora respeitado pelos que o conhecem só pelas manchetes de jornal, provoca sentimentos controversos – mesmo medo – naqueles que o conhecem mais profundamente.

O que mais me incomoda em ambos os "Tropas de Elite" é justamente isso: é uma ficção, mas também é um documentário e, para além da constatação de que muito poucas expectativas podemos alimentar a respeito de boa parte de nossa classe política – embora, repito o que já disse aqui, são a nossa melhor saída – é pertinente constatar que pessoas que vivam sob o norte de suas convicções frequentemente intimidam – e a zombaria alheia é um possível reflexo disto – e parecem encaminhar-se para um crescente isolamento, como animais em vias de extinção, mas que têm a petulância de nos incomodar a todos, pois evidenciam nossas fraquezas.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aprendendo

    Uma das coisas legais que atribuo à maturidade é, paradoxalmente, renegá-la.
   
    Tenho dois filhos pequenos que às vezes me olham com aquela expressão que parece dizer: o que eu faço agora? Bom, toda a vez que, pretensioso, uso o peso da minha experiência para a resposta, invariavelmente erro. Estou ficando burro...

    Parece inescapável: quanto mais acumulamos vivência e conhecimento, mais se amplia a nossa sensação de ignorância.

    Mas a maturidade traz coisas boas, quando encarada com sabedoria, o que pode ser traduzido por uma boa dose de humildade e reconhecimento de suas limitações. 

    Sei que quando me meto a fazer alguma coisa na qual já alcancei, supostamente, a "maturidade"– como gravar um disco, por exemplo – , sou forçado a reconhecer que minhas intervenções mais calcadas na intuição quase sempre produzem os melhores resultados. Vivo, assim, me colocando na condição de um iniciante, preservando a estranheza diante de problemas que, se facilitar, conheço vinte formas diferentes de resolver, mas, confesso, já cansei da maioria. Prefiro descobrir novas soluções, mesmo que me exponha ao erro.

    Com os filhos, algo parecido: me disciplino para perseguir respostas JUNTO com eles, e não apresentar atalhos ou os meus caminhos. Assim dou um jeito de aprender mais.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Escolhas Políticas

    Acredito que a política é, sobretudo, aprender a olhar para o lado e tentar enxergar, dentro dos limites do possível, o outro. Por outro lado, é também um exercício do olhar interno e das descobertas e esclarecimentos que esse exercício traz.

    Nessa eleição, profundamente polarizada, me dediquei a passar boa parte do tempo tentando descobrir o que, sinceramente, pensam aqueles que pensam diferente de mim. Isso não faz de mim uma pessoa melhor ou pior que ninguém, mas, óbvio, uma exceção.

    O que me faz intuir que estou no caminho certo foi a oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre aquilo que acredito e desacredito. Eu, é claro, não sou perfeito, mas não sou burro. E procuro não ceder ao auto-engano mais do que o absolutamente necessário.  

   A polarização dessa campanha tem, claro, seus culpados, mas não pretendo entrar nessa questão. O que acontece é que quase não se consegue conversar sobre política sem entrar numa discussão fundamental com qualquer um que tenha escolhido o outro lado.

   As paixões estão no ar e as escolhas políticas costumam ter horror à dúvida. Mas somos instados a escolher e isso envolve tomar partido, e é nessa questão que pretendo tocar.

  Acho que o momento exige racionalidade, o que envolve, para mim, votar em alguém que não necessariamente pense como eu em relação a todas as questões, ou que seja candidato a santo – não é para isso a eleição, né? – e que nunca tenha cometido seus erros. Mas é muito importante que compartilhe comigo certos valores.

  Ser racional significa contrapor-se ao voto puramente ideológico, normalmente refratário à racionalidade. Partidos políticos e politicos, em suma, não são para ser amados ou suscitar paixões, a meu ver. Já certos valores, como a democracia, a economia de mercado, a liberdade de expressão (inclusive a religiosa) o respeito às leis e um Estado verdadeiramente voltado para seus atributos básicos, que consistem em proporcionar aos seus financiadores (os cidadãos, que pagam seus impostos) educação e saúde de qualidade, bem como segurança, além da vontade (corroborada por ações) de corrigir suas imperfeições, são valores inegociáveis para mim. E sob esse ponto de vista, a meu ver, as candidaturas não são assemelhadas.

  Não custa lembrar que o resultado de uma escolha ruim representará, no mínimo, quatro anos de arrependimento.

  Posso não escolher o candidato que será o vitorioso. Isso me chateia, por um lado, já que confio no meu julgamento e no que ele se baseia, mas qualquer que seja o resultado da eleição, sei que essa escolha foi motivada por sinceros "olhar para o lado" e "olhar interno". O que garante que valeu a pena.