quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Caminhada

"Quando eu venho com a mãe a gente anda mais rápido".

Eu acompanho o Antonio, meu filho, ao inglês. Sempre o obrigo a caminhadas quando o tempo e o clima ajudam. Ele vai e volta reclamando o conforto do carro. Reclama também do meu ritmo de caminhar.

"Olha, filho, meu ritmo é este. Me recuso a ficar andando rapidinho".

"Porque? Desse jeito a gente demora muito".

"Não gosto de caminhar 'rapidinho'. Me sinto ridículo. Ou caminho ou corro, meio termo não é comigo. Além do mais, não consigo imaginar o... James Bond, por exemplo, andando 'rapidinho'".

"???"

"Imagina só o Clint Eastwood todo 'apressadinho' pela rua? Não dá! Meu caminhar é calculado. Tem o ritmo do cara que parece carregar o mundo nas costas. Ele vislumbra o entardecer, cerra os olhos e descortina a paisagem. O dourado do sol empresta dignidade às rugas, testemunhas indeléveis de experiências boas e más a que a vida o submeteu..."

"Sei... mas com a mãe é bem mais rápido".

Cascudo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Longevidades

Em outubro, dia 5, o Nenhum completou 24 anos e nossos shows recentes pelo país parecem nos mostrar que ainda tem muito caminho pela frente.

Cada vez que confrontadas com esse número vistoso, as pessoas nos perguntam: como vocês conseguem?

Acho que nos habituamos, por algum motivo, com a efemeridade das relações frequente no meio artístico. Justificável. É um pessoal com um ego superdimensionado e que acaba desenvolvendo pouca fé na persistência. Não todos, claro.

No nosso caso, fora as explicações de praxe, como a amizade, o respeito mútuo, do fato do Nenhum ainda responder às nossas ambições artísticas e de que é muito legal fazer parte dessa história – que é, a rigor, fazer parte da história da arte produzida em nosso estado e país – essa longevidade tem ainda muitas outras razões, e aí entra o meu caso pessoal.

Um dos imperativos de nosso trabalho são as viagens, que nos impõem frequentes ausências de nossas casas, que há bastante tempo são lares, muito além de um simples espaço físico, mas o lugar em que coabitamos com aqueles que amamos. 

O que acontece nesse "lugar" é também muito responsável por nossa persistência, equilíbrio e dedicação.

Nesse mês, uma das grandes responsáveis por minha força nessa caminhada é que vai estar de aniversário, a Yula. Minha garota, meu amor e apoio.

As boas – e longas – histórias se escrevem, acima de tudo, com amor e reconhecimento. Sem isso, esses 24 anos nunca teriam acontecido.