domingo, 26 de julho de 2009

P S G

O que faz uma mulher gostar de um homem ainda é, para mim, insondável, mas o que um homem ama numa mulher é, essencialmente, o sorriso que ela dá quando ele conta uma piada sem graça.

As piadas sem graça – ou PSG – são, de longe, o que há de mais revelador numa relação.

Declarações românticas são ok, mas convenhamos, estão desgastadas e muitas vezes carecem de sinceridade e imaginação, além de ter muitas pretensões.
As PSG têm só uma: aquele sorriso.

Os homens puxam cadeiras e pagam contas nos restaurantes, ouvem, ou fingem ouvir com atenção tudo o que elas dizem – às vezes mais embevecidos com o jeito delas dizerem do que com o conteúdo –, dão flores – alguém ainda faz isso? –, lembram de todas as datas, inclusive do aniversário da sogra – aí dão flores para ela! – puxam o saco do sogro, não falam de futebol a toda hora, enfim, vivem fazendo coisas para tentar agradá-las. As mulheres só precisam se preocupar com isso: o sorriso – sempre sincero – das PSG.

Uma série de PSG é sempre uma tentativa de início ou resgate de uma relação. Se ela sorri, uma porta está aberta. Se não, corra.

O sorriso sincero de uma PSG é inescapável. É impossível simulá-lo, já que uma PSG só pode ser identificada como tal se houver amor, ou pelo menos, algo parecido. Senão é como dizer: Olha! Um carro vermelho!

Percebe?

Existem, é claro, as piadas engraçadas, ou PE. Mas as mulheres não riem das piadas, riem dos homens que as contam. O que não é necessariamente ruim. Mas só as PSG são reveladoras.

Aí está um termômetro: uma mulher, por sua vez, pode saber muito a respeito de um homem pela qualidade de suas PSG. Um bom contador de PSG tem plena consciência de sua falta de graça. De outra forma, seria um chato banal. Um bom PSGista busca, obstinadamente, aquele sorriso. Quando o conquista, articula outra arremetida, incansável. Desenvolve o vício, voluntário, no vislumbre dos dentes da amada.

Quando um homem cerca uma mulher de PSGs, na verdade está tentando descobrir o que só quinze ou vinte anos de relação ou um exame completo de DNA poderiam – com margem de erro maior – evidenciar.

As PSG são, ou deveriam ser, a última coisa que submerge numa relação. Numa boa relação.

Às vezes, não desaparecem nunca.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Vítimas

Quem se apaixona e – consequentemente – separa com frequência, torna-se, obrigatoriamente, um pesquisador musical.

Músicas marcam relacionamentos. Grudam nas pessoas. Amarram-se nos momentos. Articulam memórias.

É independente de nossa vontade. Lá estamos nós, com AQUELA pessoa olhando AQUELA nuvem e então toca AQUELA música: a nuvem não é mais a nuvem, a árvore não é mais a árvore, a estrada não é mais só um caminho.

O fim de um relacionamento derruba – às vezes – meio iPod dos grandes. Vão também livros e filmes. Mas as músicas são, com frequência, as vítimas mais numerosas.

Artistas têm toda a sua discografia descartada. São comprometidos, inclusive, os próximos lançamentos. A foto deles nas revistas é rapidamente folheada. A aparição na TV cortada por um golpe rápido de controle remoto.

Extermínios do gênero também acontecem em outras esferas da paixão: sabe aquelas músicas especialmente compostas para aquela Copa em que fomos vergonhosamente desclassificados? Não lembra? Nem eu.

Viu?

Quem se apaixona e separa com frequência pode ficar sem trilha. Fica condenado a um duplo silêncio, de voz e de música. Se obriga, assim, ao garimpo: novos lançamentos, clássicos obscuros. Busca, com diligência, material nos nichos mais recônditos. Começa a frequentar debuts de artistas independentes, percorre a noite, insaciável, atrás de novas sonoridades.

Adiciona à paixão um outro vício.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Pelo sim

Minto, como a maioria dos caras que conheço, para evitar fazer a barba.

Argumento que tenho a pele sensível – em algum lugar tinha que haver alguma sensibilidade –, que fico com o pescoço vermelho, que sempre arranjo algum ferimento. Quase me corto propositalmente para provar minha tese. Sangraria por isso.

A razão masculina é outra para a aparência semipitecantrópica de homem curtido nas privações da vida: leite de iaque, carne de urso e essas coisas.

Tem uma imagem que sempre me vem quando estou meio barbudo: meu pai insistia em beijar e esfregar o rosto no de minha mãe quando estava a ponto de lixa. Ela xingava, tentava se desvencilhar e batia nele com o que estivesse à mão, mal escondendo o sorriso. Ele corria para o banheiro, se barbeava e voltava, todo romântico: vem, aproveita agora...

Não me refiro àquelas barbas coletoras de sopa à lá Los Hermanos, mas às frutos de um suposto desajeito com as coisas da civilização.

A barba deixa lembranças.

Um homem mal barbeado pode machucar, é claro, tenho amigos de barba cerrada e costumo beijar os meus amigos. Sei que dói. mas no fundo, tudo o que um mal barbeado quer é, pitecantropicamente, assinar a pele amada.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Comecei no twitter

Comecei no twitter.

De início, uma dificuldade: 140 f*ing caracteres. Tenho que exercitar isso. Estou pensando em fazer posts em capítulos enquanto não arranjo uma forma resumida de mim mesmo.


Outra dificuldade: responder a pergunta “o que você está fazendo?”
Sei que isso não é absolutamente necessário, mas acabei descobrindo, por causa disso, que quase nunca estou fazendo uma coisa e PENSANDO na mesma coisa que estou fazendo. Isso cria uma dificuldade extra. Na verdade, isso explica um bocado das dificuldades que venho encontrando na vida. Ainda bem que não lido com máquinas pesadas como aquelas bolas de demolição, só toco guitarra. O pessoal da banda às vezes me olha meio torto quando, numa das minhas viagens, erro um acorde ou termino a música antes deles. Não compreendem o cérebro de um gênio. Aliás, estou pensando em doar o meu para a ciência. Eles já toparam, disseram que estão precisando mesmo de peso para papel.

O problema é que para escrever é preciso pensar e, francamente, não consigo pensar em 140 caracteres ainda. Nada do que me orgulhar, mas não vou me deixar seduzir pela ideia de que minhas vírgulas têm sabor de framboesa.

Além disso, quando alguém ou uma máquina nos pergunta o que estamos fazendo, somos colocados diante da constatação de que não estamos fazendo nada que mereça um post de 140 caracteres na maior parte do tempo.

Fico pensando em reduzir para uma única palavra, talvez o jogo ficasse mais interessante. Agora ela seria: triste.

Aliás, o endereço é carlosnenhum. Tentei achar um mais interessante, juro, mas chegaram antes de mim.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A gol!

A gol, a gente dizia quando ia chutar contra o gol do adversário no futebol de botão. Não sei se ainda é assim, mas joguei muito futebol de botão na infância e adolescência e isso deve ter me condicionado de alguma forma.
É fácil me pegar desprevenido: se você não disser “a gol” me acerta bem no meio, sem esforço. Não vou me esquivar. Sempre tive reflexos lentos e o tempo acentuou isso.

Aconteceu num dia em que assistia a um desses filmes românticos, não me lembro extatamente qual: caí na armadilha. Uma cena despudoradamente melosa e me surpreendi com uma sensação sólida na garganta e os olhos encharcados. Meu primeiro pensamento foi: que p*rra é essa? (ainda havia um pouco de testosterona em algum lugar no meu corpo).

Mas foi assim, como virar a página de um livro, automático. Veio com os filhos, acho, ou acontece com todos nós. Ainda vou me lembrar de perguntar.

Mas, que inferno, foi bom.

Não fiquei sem critério, mas me emociono – a palavra é essa, não? – assistindo Bob Esponja. Só depende das circunstâncias.

Já havia desistido, com relutância, de ser James Bond, mas esse foi o atestado final da minha falta de vocação para salvar o mundo. Aliás, mais pessoas como eu e o 007 seria uma figura desnecessária, bastariam exércitos de pelúcias cor de rosa.

Não me esquivo mais. Tem muitas coisas que acontecem na minha vida que vivem me pegando desprevenido e me deixam arriado. EU! Que fui um leitor e praticante do bukowskyanismo, bêbado por olhos, bocas, imagens e algumas palavras certas na hora certa em certos lugares e com a trilha sonora certa.

Estou exagerando – já disse isso em outro texto abaixo, eu sei, mas continuo exagerando e aviso: NÃO VOU PARAR! Depois eu me desculpo, okay?