Ah, os críticos…
Tal qual os músicos, os shows, as rádios e as gravadoras, são personagens
indissociáveis da indústria fonográfica.
O curioso é quanto as resenhas críticas revelam sobre nós leitores, que não
escrevem – nem recebem – para dar sua opinião sobre o trabalho alheio.
Minha opinião é que as críticas – negativas ou positivas – fazem parte do
jogo. Nos indignamos, é natural, quando nos julgamos incompreendidos,
injustiçados por uma crítica negativa. Brandimos orgulhosamente as que
coadunam com nossa opinião. Absolutamente natural e compreensível.
Sentimos, por outro lado, uma indisfarçável satisfação em ver artistas de que
não gostamos ser massacrados. Natural também. Essas críticas, que
corroboram com nossa opinião, reforçam a sensação de não estarmos
sozinhos, de compartilhar sentimentos e posições e, de algum modo, nos
confortam. Nada de mórbido nisso, eu acho.
O Nenhum foi muitas vezes alvo de críticas negativas e confesso que
algumas delas foram construtivas, mesmo que não intencionalmente.
Qualquer músico confessaria, por outro lado, que a indiferença dói mais.
Também passamos por isso. De uns anos para cá temos tido mais resenhas
positivas. Acho que o tempo de carreira suscitou alguma generosidade, sabe-se
lá.
Nessa trajetória, dá para dizer que o maior benefício da maturidade é encarar
as críticas, boas e ruins, com boa dose de frieza. Aprendi que ninguém
consegue ser tão impiedoso com minha produção quanto eu mesmo. Fiquei
um pouco insensível a elas.
No entanto ainda me incomoda ler generalizações que alguns criticados
produzem, do gênero: “a imprensa musical”, “as redes de televisão”, a
“intelligentsia”, os “modernos”, são contra o meu trabalho. Ou que essas
multidões – todas elas reunidas – têm um péssimo gosto musical, só
prestigiam os amigos e já perderam completamente a representatividade e
não influenciam mais ninguém. Bobagem.
Gente estúpida e de mau gosto existe em qualquer lugar e ninguém é bom ou
mau porque discorda de mim. Só me reservo o direito de discutir esse
assunto com quem eu escolher. Isso é tudo.
Liberdade de expressão é sagrada e se sujeita a ela todos que colocam o
trabalho na rua.