sábado, 22 de janeiro de 2011

Histórias?

Me referi, nos posts anteriores, às letras de música como “histórias”.

Não foi por acaso, claro. Sempre me atraiu mais o realismo. Acho mais
consistente, aproxima mais o sentido da vida das pessoas e, no final, gera
obras mais duráveis. Na música, já basta a viagem dos acordes, das notas e
a maluquice dos arranjos.

Mas, como quase tudo, não sou radical nisso. É que acho um exercício FDP
conseguir contar uma história com originalidade e sempre me rendo, de
joelhos, quando diante de uma realmente surpreendente.

Acontece que ando escrevendo uns troços e apostando numa linha que
escolhi. Não estou certo se muito original e se estou conseguindo manter a
proa no rumo, mas estou desconfiando que é esse o segredo, não? NÃO?

Ou sim? Tem alguém ouvindo aí?

Não sou um escritor profissional, mas não é que me cai no colo o
compromisso de escrever um livro. UM LIVRO!

A única coisa que sei é que preciso bolar um jeito de me divertir nessa
jornada. Foi assim com a banda até agora e pretendo me investir nisso assim
também. É só assim que consigo correr maratona, senão paro na primeira
esquina. Até acabei transformando isso numa espécie de ensinamento: se
você tem algo a fazer que vá lhe demandar algum tempo e dedicação,
comece descobrindo um jeito de transformar isso numa espécie de diversão.
Isso mesmo. Vale a pena perder algum tempo nisso. Professoral, vá lá. Esse
sou eu, azar.

Anyway, adiante conto mais a respeito dessa jornada. Quem sabe não pinta
alguma ajuda desse lado aí?

Ei, ACORDA!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fazendo música

Existem, provavelmente, infinitas formas de se transformar uma história em
uma música. É precisamente aí que está a graça. Não existe, a princípio,
certo e errado nesse negócio. Mentira. Existe sim.

Quando as possibilidades são infinitas só nos resta uma saída: rigor. Ser
radical, nesse caso, é um imperativo. Quem não se acha capaz nunca se viu
arrumando a posição do garfo que parecia estar “errada” enquanto arrumava
a mesa.

A liberdade proporcionada pela criação artística tem uma dimensão
contraditória. Somos livres, em certo sentido, para enquadrar a nossa
liberdade e, no fim, descobrir as infinitas possibilidades da cabeça de alfinete
que escolhemos como área de trabalho. Mas a escolha, essa é nossa.

Compor música é parecido com desfazer a bagunça. Tirar os excessos que,
de alguma forma, se acumularam em nosso cérebro e, no fim, fazer alguma
história ganhar sentido.

Há quem fique horas num único acorde, tentando explorar todas as
possibilidades melódicas e rítmicas, polindo a proposta a cada passada para
descobrir, no final, que aquilo que descobriu serve mais para uma outra letra
que havia feito há seis meses e só não jogou fora porque errou o lixo.

Como qualquer arrumação, a gente começa com toda a disposição, já
vislumbrando o resultado final, mas é fácil mudar de ideia no meio do
caminho. Faço isso também, às vezes, mas quando começo a tergiversar sei
que é hora de dar um tempo e descansar a cabeça. Conselho: ajuda muito
gravar todas as propostas, mesmo as mais incipientes. Escutar o material no
dia seguinte, com a cabeça fresca, faz toda a diferença.

Ok, mais uma dica prática: e se você estiver contando – e não cantando –
aquela história? Quero dizer, se você REALMENTE estiver dizendo aquilo
que conta a letra, com convicção. A força de se dizer algo em que realmente
se acredita ainda é incomparável.

Comigo sempre é um jogo de idas e vindas. Lanço a música, mexo na letra,
mexo na música, descubro um “gancho” (algo que pode virar a característica
principal da música, que pode ser um riff instrumental ou uma palavra
cantada de um jeito meio marcante) e acabo mexendo em tudo por causa da
descoberta. Gravo. Ouço no outro dia. Acho tudo uma merda. Me sinto
incompetente. Saio. Vou ao cinema. No meio do filme, um lance da trilha me
dá um outro caminho. Fico ansioso esperando o filme terminar para voltar
para casa antes que eu esqueça o que pode ser a grande saída do impasse.
Chego em casa e puuuuuutz. Como é que era mesmo? Agora não parece tão
legal. Largo de mão, fico dois dias só no videogame. Um dia sento e resolvo
o imbróglio, numa tacada. Inexplicavelmente.

Chamam isso de inspiração. Eu já acho que é tudo um processo em que se
fica 24 horas por dia, sete dias por semana absolutamente entronizado com o
trabalho. A solução, de alguma forma, já está dentro de mim. Só preciso tirar
o entulho do caminho para poder enxergar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Aprender a escrever é aprender a ver (eu acho).

Prá quem se interessa: compor uma música é, como quase tudo mais na
vida, fazer algumas escolhas.

Recebemos, eventualmente, poemas e letras de outras pessoas com a
ordem explícita: usem! Façam uma música com isso! (Já aproveito e aviso:
não é o nosso sistema. Preferimos dar voz às nossas histórias. É um
exercício que nos motiva de verdade). Quanto à qualidade do material
enviado, varia. Têm coisas boas e coisas ruins. As boas nos parecem boas
por várias razões, mas têm uma qualidade recorrente: elas nos surpreendem.
Já as ruins, por eliminação, têm por defeito dizer as mesmas coisas que todo
mundo já disse da mesma forma. O escritor pensa, orgulhoso: isso tem cara
de letra de música. E não está errado. Têm milhares parecidas. Ele já viu
aquilo que escreveu em várias canções, dito exatamente da mesma forma. O
qua não quer dizer que “não funcione”. Qual é o problema, então?

Essa é uma questão pedregosa, mas acho que me faço entender melhor
assim: se você tem alguma ambição, talvez deva buscar um pouco de
originalidade para alcançar seus objetivos. Dá para imaginar que tem
bastante gente tentando do jeito mais convencional, não? A disputa por
aquele caminho é grande. Agora, ser “original” é tudo, menos simples.
Escrever de uma forma original é, antes de tudo, aprender a enxergar o
mundo de uma forma diferente. Dito assim soa como auto-ajuda, e é isso
mesmo. Ajuda um bocado em todos os sentidos criar uma forma mais ou
menos particular ou, no mínimo, menos “pronta” de pensar sobre tudo. É
difícil, mas é o caminho, senão a sua originalidade vai soar gratuita. Envolve,
sim, dar uma polida na cultura geral. Mas repito: vale a pena. Sei que já falei
isso há uns bons posts atrás. Azar. Sou repetitivo mesmo e não tenho
nenhum problema com isso.

Quase todas as letras que recebemos falam sobre relacionamentos
amorosos. Natural, as relações amorosas são momentos que nos colocam
próximos à música. A sensibilidade fica afiada. As músicas parecem ganhar
sentido nessas horas. A maior parte também fala de relacionamentos mal
sucedidos ou problemáticos. Natural também. É quando passamos por eles
que nos socorremos da música. Além disso, quase todos passamos por
essas situações, o que facilita buscar a empatia do ouvinte. Mas
independentemente de você estar ou não passando pela situação que relata (acho
que é mais difícil fazer uma boa letra quando estamos imersos, embora
achemos mais fácil, do mesmo jeito que um bêbado acha que dirige melhor
sob o efeito do álcool enquanto ziguezagueia pela pista), existem formas e
formas de contar uma história.

Fico pensando: tanta gente gosta de animais de estimação, mas quase
ninguém escreve uma história sobre sua relação de amor – porque não? –
com seus bichos.

Era um dia bem normal
Levei Rex para passear…


Tudo bem, não foi original. Rex, então, nem se fala. Mas o tema é novo. Dá
para ser “romântico”

Gosto do jeito que Rex me olha
Enquanto faz o seu xixi…


Explorar a identidade

Rex é um pouco estranho
Assim como eu
Gostamos das mesmas coisas
Mas eu prefiro fazer xixi em casa.


Brincadeiras à parte, tem uma bem conhecida que sempre me vem à cabeça:

Meu coração
Não sei porque
Bate feliz
quando te vê


Singela. Diz tudo que tem para dizer. Não é nada banal e FOI ESCRITA HÁ
QUASE 100 ANOS ATRÁS por Pixinguinha e João de Barro.
Mas uma dica inesquecível me foi dada por um dos meus mestres: você
precisa ter um MOTIVO. Uma razão para escrever. Nem que seja pelo non
sense. Sem isso, fica tudo vazio e sem sentido. Talvez por isso eu seja um
pouco repetitivo. Nossos motivos não são tantos assim, na maioria dos casos
e talvez viver seja, no fundo, ampliar as razões para escrever. Viver histórias
que valham a pena ser contadas, por mais singelas que pareçam. A ideia é
que desenvolvamos uma forma apurada de VER aquilo que muitos banalizam
com frases feitas e fugir de soluções prontas ou, ainda, brincar com elas mas
SEMPRE, sempre falar exatamente o que estamos sentindo. Isso é difícil, eu
sei, mas sempre original.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Complicando

Todo mundo gosta das coisas simples. Ou queria tornar as coisas mais
simples.

Nasce e renasce no nosso imaginário a noção de que simplificar as coisas é,
sempre, uma melhora. Também virou meio consensual que aprender a
enxergar a beleza na simplicidade, bem como comprazer-se com as coisas
simples torna a vida mais fácil. Será?

Já tenho um problema natural com as coisas muito consensuais. Um dos
meus melhores professores um dia me disse que é no mínimo preguiçoso,
quando não desnecessário, dizer o mesmo que todo mundo diz. Concordo. O
senso comum me dá arrepios. Logo, discordo das simplificações por isso.
Mas há outras razões.

No olhar de um artista dos bons, uma paisagem de céu, campo e umas
colinas distantes vira um turbilhão de complexidades. Ele parece desmontar a
suposta harmonia da cena e a recria através de um filtro interior quase nunca
muito harmônico e equilibrado, quando ele é dos bons, repito.

Um amigo queria que nosso novo disco soasse mais... simples. Entendo o
que ele quer dizer. Mas simples, na criação artística, é uma ideia muito
enganosa. A simplicidade que nos seduz nos trabalhos alheios é sempre
fruto de um estupidamente complexo processo de amadurecimento do
próprio artista. Aquilo que vemos é só o reflexo desse processo. A ponta do
iceberg. Difícil e inútil tentar imitar.

Viver, falar, tocar, escrever, transar, abraçar, relaxar, pintar, cantar, beijar, criar filhos, amar
e caminhar de mãos dadas são coisas bem complicadas. Não existem
manuais ou regras que possam garantir que, ao segui-las, seremos bons em
fazer essas coisas. Simplificar? Acho que não.