quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Mercado Fonográfico

Nossa execução em rádios tem sido objeto de frequentes discussões quando nos reunimos (a banda). Percebemos que nosso espaço na programação de algumas vêm diminuindo cada vez mais ano a ano. Às vezes é difícil não imaginar que talvez a nossa música não esteja mais adequada ao tipo de produto que algumas rádios estão entregando aos seus ouvintes, o que, em alguns casos, não deixa de ser lisonjeiro.
No ano passado fizemos uma turnê em Rondônia, em vários campi da UNIR. De início imaginei que tocaríamos para um público completamente desatualizado de nosso repertório mais recente, cuja execução em rádio ficou um pouco mais restrita ao sul e sudeste do país. Me enganei. Os shows foram fantásticos. O público, sempre grande, cantava praticamente todas as músicas junto conosco.
Imediatamente pensei num fenômeno que precisa sempre ser visualizado em todas as suas nuances: a internet.
Alvo de críticas de vários artistas, que consideram ter sido usurpadas as suas criações, distribuidas descontroladamente por toda a rede, a internet também é uma poderosa ferramenta de divulgação. Também tem a qualidade de passar ao largo das negociações que vêm contaminando o ambiente da mídia.
Poucos setores da economia viram alterações tão radicais nas suas relações de consumo como o da música. O mercado fonográfico - aliado à tecnologia que deu origem aos primeiros aparelhos capazes de reproduzir música gravada em cilindros ou discos - de início chegou a ser visto como potencial destruidor do mercado de música ao vivo, uma vez que permitiria às pessoas ouvir música em suas casas. O tempo mostrou que o desenvolvimento da indústria do disco fez, na verdade, crescer, e muito, o mercado de música em ambos os formatos discos e shows. Por outro lado, a capacidade dessa indústria de produzir e disponibilizar novos produtos num mercado crescente e sempre ávido por novidades é limitada. É simplesmente impossível gravar, distribuir e divulgar toda a música produzida no mundo. Logo, as empresas desse mercado começaram a desenvolver critérios de seleção para o que deveriam ou não gravar. Não é difícil imaginar que esses critérios, que foram sendo depurados mais e mais com o passar do tempo, obedeciam a velha relação custo/benefício, ou, por outra, eram gravados aqueles que representassem menor risco à lucratividade das empresas de gravação. Essas empresas, no entanto, tinham que manter-se atentas às flutuações de gosto e peculiaridades do seu público consumidor, o que implicava que essas então já grandes transnacionais tivessem em seu cast artistas locais dos países onde mantinham filiais.
Para manterem-se atentas, as gravadoras começaram a fazer pesquisas de mercado, a investigar em profundidade as motivações de seu público consumidor. Essa atitude atingiu o seu ápice na década de 80, quando as gravadoras começaram a fabricar artistas sob medida para atender às demandas aferidas nas pesquisas. Foi a época das conhecidas boy bands.
A entrada em cena da internet – associada, também ao desenvolvimento e consequente barateamento dos equipamentos de gravação de áudio e vídeo – atingiu o mercado fonográfico na espinha: caíam o monopólio do registro, da distribuição, o lucro dos direitos (que veio a atingir os criadores, também) e, ao mesmo tempo, abria-se uma outra janela: TUDO – mesmo! - poderia vir a ser gravado e ter distribuição global.
Isso leva a pensar numa reconfiguração de poder. Ela já afetou profundamente os negócios das gravadoras. Como essa nova era vai interferir no poder dos meios de comunicação é ainda difícil de dizer, mas acho que esse rio corre na mesma direção, pulverização e segmentação. E mais poder aos consumidores.
Afora as questões em aberto – nem um pouco desimportantes – que envolvem a remuneração dos criadores de música, filmes, produtores, e investidores – é inegável que a internet trouxe o poder para a mão das pessoas. Nenhuma empresa mais vai selecionar, segundo critérios comezinhos, o que as pessoas vão ouvir. Não somos mais reféns de critérios vinculados exclusivamente à fria lógica do mercado. Isso trouxe, traz e trará, a meu ver, outras questões e problemas bem importantes. Assunto para um outro post.

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