quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Como começar uma banda?

Depois de vinte e dois anos de carreira freqüentemente somos tomados como referência. Imaginam-nos autorizados a opinar sobre uma série de assuntos sobre os quais só conhecemos a prática. Costumo desconfiar dessa forma de conhecimento, embora com muita dedicação e algum senso crítico ele talvez possa ser sistematizado e se converter em algo que possa ter alguma utilidade para alguém.
Mas é inevitável que nos perguntem: “Como começar uma banda?”
Durante algum tempo respondíamos de forma esquiva, ou mesmo cínica: “Comecem comprando um afinador eletrônico”, e por aí ia.
Tenho sido, dentro da minha percepção limitada, um pouco mais atento a essa questão. Não é difícil encontrar excelentes músicos em quase qualquer lugar - caras que pegam uma guitarra, baixo, bateria ou teclado e “mandam ver” com uma desenvoltura de fazer inveja a muitos profissionais. Muitas vezes eles se reúnem, fazem uma banda, ensaiam, fazem alguns shows. Eles têm a técnica, têm o equipamento, têm a “imagem”, referências, vontade e tudo o que parece ser necessário para “começar uma banda”. Mas então, nada, ou muito pouco acontece além de uns poucos shows e o divertimento dos ensaios. Logo eles desistem do sonho.
Essas experiências reforçam a impressão de que uma coisa é “começar uma banda”, outra é mantê-la. Talvez as questões fossem mais apropriadamente colocadas se se dispusessem a investigar a profundidade das próprias ambições.
Contardo Calligaris, em uma das crônicas de seu livro “Quinta Coluna”(Publifolha, 2008) discute os sonhos dos adolescentes e sua disposição em transformá-los em realidade. O autor - que é psicólogo e tem vários jovens entre seus clientes - observa que estes vêm sonhando e buscando construir para si futuros cada vez mais comezinhos. Aquelas pretensões que faziam parte do imaginário de quase qualquer jovem – ter uma banda, inclusive - ficaram, cada vez mais, restritas somente à esfera dos sonhos, nunca realizados. Contardo vê nisso – eu também – um prejuízo. Os adolescentes, hoje, parecem pouco inclinados a correr quaisquer riscos em nome de um futuro mais desafiador e menos covencional.
Um dia, conversando com um rapaz, guitarrista, sobre isso e outras coisas, disse a ele uma coisa que pareceu surpreendê-lo: quem sabe, em vez de passar os dias treinando escalas e incrementando o repertório de frases no instrumento, abrir um bom livro? Disse que ele provavelmente não fosse um gênio – sem ofensa, a imensa maioria de nós não é, ou até pode vir a ser, depois de muito trabalho - daqueles que conseguem construir um mundo criativo totalmente auto-referenciado, e que talvez precisasse qualificar a sua opinião sobre o que acontecia em volta dele. Desenvolver uma percepção menos convencional de mundo talvez fosse o que lhe faltasse para produzir algo realmente original.
Não desmereço o apuro técnico, ele também contribui para uma visão menos convencional na hora de abordar o instrumento, mas resumir a busca a isso é – provavelmente – condenar-se a replicar soluções desenvolvidas por caras mais espertos, conectados e… pioneiros.
Lembro de ter lido para a faculdade - arquitetura - um livro que, de várias formas, viria a influenciar minha compreensão de mundo, por conseguinte, minha forma de conviver com a música. Se chama “A História da Arte”, de E.H. Gombrich (LTC, 2000). Não é um livro pequeno, mas sua leitura é fácil e seu ensinamento grandioso.
Esses são, portanto, fatores que considero imprescindíveis para “começar – e manter – uma banda”: os caras geniais são muito poucos, provavelmente você não é um deles – eu sei que não sou - , o que não quer dizer que você não possa fazer coisas muito interessantes e contribuir com o seu toque pessoal e original nessa enorme construção que é o universo da música. Para construir essa sua estrada, um caminho, – que eu acho o mais promissor – um bom começo é desenvolver a curiosidade a respeito de tudo, ou quase tudo, e nunca é demais lembrar: perseverar. Ainda é o único jeito de transformar os sonhos em vida.

Um comentário:

  1. do ponto de vista de ouvinte ou fã, acho que hoje em dia não se deveria pensar em formar banda e sim projetos musicais. pois uma banda é mais facil de se criar um vínculo afetivo com o publico. e quando a banda se desfaz ou muda de formação, geralmente os fãs não estão preparados para isso e pode acabar coprometendo o trabalho da banda, pois há uma certa cobrança e comparação.

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