quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ideal versus real


Ontem fui conhecer um shopping recém inaugurado aqui em Porto Alegre. É provavelmente o maior de todos daqui. Daqui a algum tempo nós, os portoalegrenses, nos perguntaremos: como era a vida antes dele? Como era possível? Os shoppings existem em todo o mundo, mas acredito que aqui, no Brasil, encontraram seu hábitat natural. Uma possível convergência de fatores contribuiu para o seu sucesso, provavelmente os shoppings correspondam a nossas aspirações de um mundo perfeito: temperatura ideal, iluminação controlada, sem a possibilidade de chuva, piso de granito, banheiros limpos – ok, em alguns casos - , não têm aquela variedade, normalmente desagradável, de odores que ocorre na rua, mas a principal razão apontada pela maioria das pessoas está relacionada com a sensação de segurança que proporcionam, em contraste com a intensa sensação de insegurança da vida nas ruas de nossas grandes cidades. Essa é a contraposição: shopping centers versus “rua”. Mundo ideal versus mundo real. Não poderia entrar em profundas considerações antropológicas e urbanísticas a respeito disso, não tenho respaldo para tanto, mas li há algum tempo uma notícia que sempre me vem à memória quando adentro um desses espaços idealizados para o consumo. A matéria falava a respeito de restrições à consrução desse tipo de empreendimento em Londres. Afora o fato de se tratar de uma grande cidade que busca, de alguma forma, a manutenção de alguma identidade visual, coisa que frequentemente os projetos de shoppings ignorem, o motivo principal exposto na matéria foi o que me chamou mais atenção: Londres queria preservar o comércio de rua – de boa qualidade – por considerar que ele é, em grande parte, responsável pelo charme da cidade. A intensa movimentação de pessoas em ruas como a Oxford e muitas de suas transversais era algo que deveria ser preservado. Esse tipo de questionamento, que nem sempre – ou nunca - passa pelas nossas cabeças, me faz pensar no tipo de cidade que estamos construindo por aqui. Os muros, as grades e também os shoppings segregam a rua e, em nome da segurança, a convertem em um lugar cada vez mais inseguro, uma vez que abandonado. No livro Morte e vida de grandes cidades (Martins Fontes, 2000), Jane Jacobs, que liderou o movimento para evitar que Nova Iorque se tornasse refém dos automóveis diz “É uma coisa que todos já sabem: uma rua movimentada consegue garantir a segurança; uma rua deserta, não”. A autora considera que uma rua com movimento – que, conclusão minha, produza razões para as pessoas circularem nela, como lojas, restaurantes, lancherias e cafés – é uma rua com muitos “olhos”, ou seja, que conta com a vigilância de seus usuários, dependendo menos do policiamento para coibir as ações criminosas. Nossa experiência prova que talvez ruas movimentadas não sejam o suficiente para garantir um ambiente mais seguro, mas, por outro lado, poucos irão discordar que ruas margeadas por grades, muros e as paredes cegas dos shoppings, corredores perfeitos para o trânsito de automóveis, não correspondam a nossa ideia de uma cidade amistosa e boa de morar.

Um comentário:

  1. acho que shopping e condomínios fechados vão virar tradição no futuro de porto alegre....

    belo blog, Carlos!
    sucesso! bjs!!!

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