terça-feira, 12 de julho de 2011

Respondendo a uma pergunta...

Pergunta recorrente em quase todas as nossas entrevistas: o que acham da
atual cena musical – roqueira – do Brasil?

A pergunta possivelmente busca, mais do que satisfazer a curiosidade do
entrevistador, extrair uma declaração de cunho saudosista, do tipo “No nosso
tempo era diferente. Mesmo o pop tinha outro teor”.

Fácil criticar, dependendo do ângulo que se vê, ainda mais porque o sucesso
implica em visibilidade, massificação e acaba por oferecer, à vista de
tamanha aceitação, a tentação de que busquemos generalizar um certo
“gosto” – ou mau gosto – nacional que parece cada dia um pouco pior.

Parênteses. Provavelmente a maioria do que se produz aqui, como de resto
em qualquer lugar do mundo, deve ser bem interessante. Só que tem menos
visibilidade. Temos que aprender a usar os recursos que o mundo nos
oferece. Fecha parênteses.

Alguns, claro, cedem à tentação e baixam a lenha nos roqueiros coloridos. O
que também não é difícil. Não ignoram, possivelmente, que aqueles não têm
culpa pelo sucesso, embora o “sucesso” pareça estar cada vez mais
vinculado à disposição e dimensão do investimento financeiro, nem todo o
dinheiro do mundo é capaz de fazer uma música tocar se ela não encontrar
alguém que se identifique com ela. A culpa, assim, inexiste. Ainda assim vejo,
no entanto, a manifestação crítica como válida. Mais que válida, necessária.
Ela é parte do jogo. Ainda mais quando se conhece os mecanismos que
frequentemente conduzem e mantêm o sucesso. As boas críticas são quase
como autocríticas. Uma indignação contra a acomodação, contra a aceitação
bovina do que o mercado nos joga na cara quase todas as horas do dia.

Não é errado criticar. Errado seria ser desrespeitoso e estúpido nessa
prática, como de resto, em qualquer manifestação, não é? Ainda assim, até a
estupidez faz parte do jogo. O espaço da crítica é sagrado, embora pareça
um pouco fora de moda, o que é triste de constatar, e não só dentro da
esfera da música.

O Nenhum de Nós foi, e ainda é, muito criticado. Às vezes com bastante
contundência. É sempre chato, mesmo que finjamos que não ou
pretendamos ignorar. Dói sim. Mas não nos paralisa. Doentio é querer viver
na unanimidade positiva. Ou mesmo imaginar que o ato de criticar possa ser
ilegítimo, manifestação evidente, a meu ver, de um nanismo autoritário mal
adormecido e que, de novo, parece despertar por todo o canto.

2 comentários:

  1. Aew, hoje chegou o meu CD Contos de Água e Fogo (muito feliz, grande fã).
    Carlos, quanto as críticas, acho que devem ser consideradas uma tolice, pois se alguma minoria critica a banda, automaticamente esta dando atenção para banda, pois ninguém perde tempo em algo que não lhe interessa.
    Sou um grande fã da banda desde que era bem pequeno, herdei uma certa herança cultural de meus pais, que curtiam demais Nenhum de Nós, hoje tenho 15 anos, tenho 3 CD´s e pretendo ver se consigo comprar a camisa da Banda na "stereophonica", ir a um show, e quem sabe até tocar com vocês (mente viajando)rsrsrs!!!

    André Airton Noronha Mariano (grande fã)
    andre-airton@hotmail.com

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  2. Teve uma época da minha vida, coisa de uns 10-15 anos atrás, que já viu taxado de idealista por torcer para o Santos F.C, votar no Lula e ser fã do Nenhum de Nós. Na defesa desse meu tripé de paixões, eu travei boas discussões, conquistei bons “inimigos”, e principalmente aprendi “os mecanismos que frequentemente conduzem e mantêm o sucesso”.
    Por tudo isso, sou capaz de entender e me solidarizo a ti quando falas da dor. “Dói sim”. Dói demais! Mas ao mesmo tempo, vem o alento, o bálsamo quando você profere que a dor “não nos paralisa”! São palavras que me dão a certeza de que fiz a escolha da paixão certa!
    É esse o sentimento que move, em particular, os fãs do Nenhum de Nós. Tomo a liberdade para falar em nome deles: A estupidez de algumas críticas não nos paralisa, pelo contrário, nos fortalecem!
    E por falar em estupidez, concordo que ela faz parte do jogo. Afinal, a psicanálise explica que, pelas mais variadas razões, alguém precisa ser notado. O que é difícil aceitar são alguns grandes veículos da imprensa abrir um canal para a veroz crítica estúpida e destrutiva.
    Entendo que não devemos nos deixar levar por algumas opiniões, mas referências são importantes para o jovem, sobretudo aos adolescentes. Infelizmente o que sai nos grandes jornais e revistas semanais é quase uma verdade universal.
    Falta seriedade para o jornalismo de cultura, sobretudo para a crítica musical. E não falo isso como se estivesse jogando m* no ventilador. Já doeu demais outrora, ler verdadeiras maldades, dirigidas ao Nenhum de Nós, camufladas de crítica. Uma das piores foi quando um importante jornal de SP editou uma enciclopédia da música brasileira.
    Nela, ao consultar os artistas e bandas cujos nomes iniciavam com a letra N, não havia sequer o nome Nenhum de Nós!! Havia até menção para outras bandas menos conhecidas que duraram pouco tempo. Foi muito revoltante aquilo, fiquei quase paralisado!
    Eu entendo o não apreço do jornal pela banda e até mesmo as críticas estúpidas. Agora, não mencionar pelo menos o nome de uma banda com tanto tempo de estrada já é no mínimo, um desserviço ao seu leitor. É um gritante e estúpido desrespeito ao seu leitor!
    De 1989 para cá, eu li muitas críticas de pessoas que não vale a pena citar o nome. Também vi uma revista-zumbi que morria e ressuscitava a cada ano. Onde estão todos eles? Onde estão muitas daquelas bandas tão bem faladas por eles? Esses caras eram os tais quando eu tinha quase 16...Um deles destilava seu veneno dizendo que “o Nenhum de Nós era um equívoco” um outro dizia que “estão brincando de ser artistas”.
    Engraçado, nem nos programas vespertinos-de-fofoca-culinária da TV aberta eu vejo esses caras...
    A estupidez jamais destruirá a verdade! Para quem apostava que o Nenhum de Nós era uma one-hit wonder está aí a resposta! Ou você conhece algum equívoco conseguir completar 25 anos de estrada, lançando seu 14° disco, com mais de 1000 shows e um grande reconhecimento do público? Talvez num desses programas vespertinos ou naquela enciclopédia da música brasileira daquele importante jornal de SP talvez você encontre...
    “Eles passarão, eu passarinho”. Mário Quintana tinha mesmo toda razão e imagino que o Nenhum de Nós seguiu direitinho essa receita de vida!

    Um grande abraço!
    Karim

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