quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fazendo música

Existem, provavelmente, infinitas formas de se transformar uma história em
uma música. É precisamente aí que está a graça. Não existe, a princípio,
certo e errado nesse negócio. Mentira. Existe sim.

Quando as possibilidades são infinitas só nos resta uma saída: rigor. Ser
radical, nesse caso, é um imperativo. Quem não se acha capaz nunca se viu
arrumando a posição do garfo que parecia estar “errada” enquanto arrumava
a mesa.

A liberdade proporcionada pela criação artística tem uma dimensão
contraditória. Somos livres, em certo sentido, para enquadrar a nossa
liberdade e, no fim, descobrir as infinitas possibilidades da cabeça de alfinete
que escolhemos como área de trabalho. Mas a escolha, essa é nossa.

Compor música é parecido com desfazer a bagunça. Tirar os excessos que,
de alguma forma, se acumularam em nosso cérebro e, no fim, fazer alguma
história ganhar sentido.

Há quem fique horas num único acorde, tentando explorar todas as
possibilidades melódicas e rítmicas, polindo a proposta a cada passada para
descobrir, no final, que aquilo que descobriu serve mais para uma outra letra
que havia feito há seis meses e só não jogou fora porque errou o lixo.

Como qualquer arrumação, a gente começa com toda a disposição, já
vislumbrando o resultado final, mas é fácil mudar de ideia no meio do
caminho. Faço isso também, às vezes, mas quando começo a tergiversar sei
que é hora de dar um tempo e descansar a cabeça. Conselho: ajuda muito
gravar todas as propostas, mesmo as mais incipientes. Escutar o material no
dia seguinte, com a cabeça fresca, faz toda a diferença.

Ok, mais uma dica prática: e se você estiver contando – e não cantando –
aquela história? Quero dizer, se você REALMENTE estiver dizendo aquilo
que conta a letra, com convicção. A força de se dizer algo em que realmente
se acredita ainda é incomparável.

Comigo sempre é um jogo de idas e vindas. Lanço a música, mexo na letra,
mexo na música, descubro um “gancho” (algo que pode virar a característica
principal da música, que pode ser um riff instrumental ou uma palavra
cantada de um jeito meio marcante) e acabo mexendo em tudo por causa da
descoberta. Gravo. Ouço no outro dia. Acho tudo uma merda. Me sinto
incompetente. Saio. Vou ao cinema. No meio do filme, um lance da trilha me
dá um outro caminho. Fico ansioso esperando o filme terminar para voltar
para casa antes que eu esqueça o que pode ser a grande saída do impasse.
Chego em casa e puuuuuutz. Como é que era mesmo? Agora não parece tão
legal. Largo de mão, fico dois dias só no videogame. Um dia sento e resolvo
o imbróglio, numa tacada. Inexplicavelmente.

Chamam isso de inspiração. Eu já acho que é tudo um processo em que se
fica 24 horas por dia, sete dias por semana absolutamente entronizado com o
trabalho. A solução, de alguma forma, já está dentro de mim. Só preciso tirar
o entulho do caminho para poder enxergar.

Um comentário:

  1. Poxa cara... estou neste exato momento escutando Engenheiros.. e lendo esta sua resenha..

    Faço parte de uma banda.. sou um dos compositores.... sei exatamente oq vc diz ai...
    E obrigado por fazer parte da melhor geração de músicos que o Brasil ja teve, e olhe que acho q foram melhores que a geração da Tropicália!!!

    Como seria bom se os anos 80 voltassem e acabasse com esses lixos que ouvimos por ai...

    Bem.. deixo aqui meus sinceros agradecimentos novamente..

    se puder, escute nosso som... tentamos usar um pouco destes anos como inspiração.

    www.wix.com/almalem/almalem
    www.myspace.com/almalem

    Abração cara!!!

    Fabricio Bicego
    fabriciobicego@hotmail.com

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