sábado, 11 de abril de 2009

Sonos

Durmo melhor entre o som das conversas.

Existe uma espécie de abrigo cálido que se conforma em torno das vozes de familiares e conhecidos. Tombar entre esses sons produz o melhor dos sonos.

Aliás, só me lembro de um melhor: o sono do carro quando somos pequenos, e a sensação de ser carregado, imóvel – fingindo-se desmaiado – até a cama. Até as funções de higiene como escovar os dentes, lavar o rosto e as mãos, tudo dispensável. Em primeiro lugar, o repouso do corpo. O sono da alma.

O súbito silêncio nas conversas é que me desperta. Os gritos, as interjeições e discordâncias não. Tudo conspira para – como aquele cobertor displicentemente jogado sobre os meus joelhos num dia mais frio – me envolver no desejo de não estar em nenhum outro lugar.
Às vezes estava na rede, na casa da praia. Uma brisa leve esfriava o ar que entrava pelo meu nariz, misturando cheiro de maresia, churrasco, caipirinha, café e sobremesa.

Até hoje fico em dúvida se dormia ou fingia. Alguns momentos são tão perfeitos que dá vontade de parar de respirar para ver se se eternizam. Ainda bem que não: sempre vem alguém e gentilmente nos toca o ombro e diz: café com bolo?

3 comentários:

  1. Achei interessante tua leitura sobre o sono e principalmente pelo fato dele ser embalado pelas vozes de pessoas que conversam ao seu redor. Talvez este momento seja considerado o "melhor" ou o mais próximo de adormecer em um carro quando crianças, por imprimir a mesma segurança e o conforto de ser acalentado pelos sons como se fossem canções de ninar.
    Só discordo do pedaço em que você cita o "sono da alma". Creio nesses instantes ela desperta para determinadas coisas/sensações e eterniza ocasiões perfeitas para se curtir algo novo, mesmo que em sonho.

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  2. "O sono é um rastejar do homem dentro de si mesmo."

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  3. Às vezes sofro do mesmo mal.
    Acostumei com a 24 de outubro aqui do meu lado, ao ponto que dormir no silêncio da praia, parece bem mais difícil.
    Mas só consigo dormir mesmo quando desligo os sons que vem de dentro, sabe? Aquelas vozes, pensamentos, idéias...

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